terça-feira, 1 de setembro de 2009

Roll over Chuck Berry...

Chuck Berry @ Via Funchal, São Paulo/SP - 19/09/08

Crise? Que crise? Assim como acontece na maioria das apresentações internacionais que passam pelo Brasil, milhares de fãs alheios a atual situação econômica mundial pagaram até R$350,00 para assistir a um dos responsáveis pela criação desse tal de rock'n roll: Chuck Berry. Ou você achava que a mistura do blues dos negros com o country dos brancos havia surgido de combustão espontânea?

Na plateia da Via Funchal, uma fauna de jovens entusiastas e "tiozões" saudosistas aguardavam para ver o "tiozão-mór", que subiu ao palco com uma camiseta vermelha florida e o tradicional quepe de marinheiro, em um look que mais lembrava um integrante do grupo cubano Buena Vista Social Club.

Aos 82 anos de idade, Chuck Berry segurou as pontas por cerca de 55 minutos, provavelmente o tempo que ele conseguiu agüentar de pé, cantando e tocando guitarra. Mas o ídolo da década de 50 não é mais somente um guitarrista. Ele se transformou em um verdadeiro showman, que diverte a platéia não apenas com a música, mas também com muito bom-humor e simpatia.

"Roll over Beethoven" foi a canção escolhida para abrir o show. Sentada ao meu lado, uma sessentona vibrava como se tivesse 15 anos e nenhum senso do ridículo. E era esse mesmo sentimento que o roqueiro veterano provocava na maioria da plateia, que parecia não se incomodar com o andamento mais lento das músicas e da guitarra que não soava mais como antigamente.

Em seguida, o que se ouviu foi exatamente aquilo que todos queriam ouvir: uma discoteca básica de Chuck Berry, com direito aos clássicos "Sweet little sixteen", "Maybellene", "School Days", "Carol" e "My ding a ling". Um sucesso atrás do outro, sem frescuras, nem firulas.

Os resquícios do eterno galanteador Chuck Berry também estavam presentes. Antes de começar "Reelin' and rockin", a última da noite, o guitarrista soltou: "essa é dedicada para todas as garotas que assistiram a todo o show comportadas e sentadas, morrendo de vontade de dançar". Dito isso, convidou um grupo de meninas para "chacoalhar o esqueleto" ao seu lado. Umas mais animadas, outras nem tanto. Nenhuma delas parecia conhecer a canção, mas todas representaram bem o papel que lhes foi dado de animar o público e embelezar o palco.

A música foi chegando ao fim e Chuck Berry foi saindo de fininho. Ainda empunhando a guitarra, saiu à francesa pela lateral do palco, deixando o trabalho de encerrar a canção para os (ih, esqueci de citar) muito bem entrosados companheiros de banda, incluindo aí o seu filho, Charles Berry Jr.

A plateia olha no relógio e quase não pode acreditar que apenas 55 minutos se passaram. Será que ele volta? O pedido do bis é inútil. As luzes da Via Funchal se acendem e só então todos percebem que a grande noite de rock and roll ia ser mais curta do que o esperado.

Ah, é claro que também rolou "Johnny B. Good" em meio a tudo isso. Ou você achou que ele seria louco de deixar justo essa de fora?